Recentemente, programadores começaram a liberar códigos no GitHub que permitem a criação de deepfakes em tempo real, utilizando webcams para sobrepor rostos ao vivo. Além disso, esses códigos podem ser combinados com a criação de drivers de câmeras virtuais, tornando possível usar deepfakes em reuniões, videochamadas e até processos de autenticação visual. Isso significa que criminosos podem criar interações extremamente convincentes, onde uma pessoa parece estar presente em uma chamada ou fornecendo uma confirmação visual que, na realidade, nunca aconteceu.
Esses avanços levam a manipulação digital para um novo patamar, onde qualquer um com habilidades básicas de programação (e ainda podem contar com ajuda da IA para codificar) pode usar essas ferramentas para criar vídeos e áudios falsos de forma incrivelmente realista.
Com praticamente nenhum investimento, é possível gerar imagens e vozes que parecem genuínas, fazendo com que vítimas acreditem estar interagindo com parentes, chefes, amigos ou figuras públicas. A facilidade de acesso a fotos e áudios nas redes sociais contribui para a criação desses deepfakes, que se tornam armas poderosas nas mãos de criminosos.
O uso de deepfakes vai agregar às muitas táticas já empregadas por golpistas no ambiente digital. Redes sociais como Instagram e Facebook frequentemente abrigam anúncios fraudulentos e contas comprometidas, que são usadas para enganar seguidores com promessas de investimentos milagrosos ou vendas de produtos a preços irrealisticamente baixos.
Além disso, outros golpes incluem contatos via WhatsApp de supostos familiares pedindo dinheiro, falsos chefes solicitando transferências de fundos e falsos delegados extorquindo vítimas com mensagens ou fotos comprometedoras. Os dados para esses golpes são muitas vezes obtidos de fontes abertas, computadores invadidos ou através de vazamentos em grandes incidentes de segurança digital.
Com o avanço da inteligência artificial, essas ameaças se tornam ainda mais difíceis de combater. A criação de deepfakes ao vivo, possibilitada por drivers de câmeras virtuais, amplia ainda mais o alcance dessas fraudes, permitindo que criminosos se passem por qualquer pessoa de forma convincente em contextos que exigem verificação visual.
Para enfrentar esse cenário desafiador, temos que aumentar a conscientização em segurança digital e adotar protocolos rigorosos de verificação, como o uso de senha e contra-senha em contatos online que envolvem informações sensíveis. Este protocolo deve incluir perguntas e respostas específicas que apenas as partes envolvidas saberiam, criando uma camada adicional de defesa contra as manipulações facilitadas pelos deepfakes.
O aumento da segurança digital requer uma abordagem abrangente que cubra comportamentos seguros, dispositivos protegidos, contas seguras e um gerenciamento cuidadoso dos dados. Somente com essas medidas poderemos reduzir a incidência de crimes digitais e nos proteger das sofisticadas ameaças que surgem com o uso crescente de tecnologias de deepfake.
Elias Edenis é professor de Investigação de Crimes Cibernéticos, Análise de Dados na Investigação Criminal e Segurança Operacional On-line (OPSEC) na Academia de Polícia Civil, nos cursos de formação inicial e continuada e na Pós-Graduação em Análise de Dados; Policial Civil, lotado na Delegacia de Repressão a Crimes de Informática, da DEIC/PCSC; Autor do livro digital Noções de Tecnologias para Investigadores Criminais; É Palestrante e Promotor de Conscientização sobre Segurança Digital e a Relação da Tecnologia com o Direito, especialmente produção de provas digitais e manutenção da cadeia de custódia.